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O BLOG DO VILAS

POR LUÍS VILAS ESPINHEIRA

O BLOG DO VILAS

POR LUÍS VILAS ESPINHEIRA

DIOGO FARO - Condenar uma atitude ou destruir a mensagem?

Sigo o Diogo Faro há dois ou três anos. Partilho conteúdo dele desde que me comecei a interessar por política e pela sociedade. Tenho o privilégio de ter escolhido o momento da minha vida para me interessar. Há pessoas que são forçadas a interessar-se para se poderem defender até do ar que respiram. Identifico-me com as mensagens e com os textos dele, sobre temas que remoem na minha cabeça e que, muitas vezes, eu que sou dado às letras, ainda não consegui processar antes de passar para o "papel". Ele é automático e acerta em cheio. As mensagens dele fazem muitas rasteiras a muita gente. E, durante muito tempo, muitos dos que se sentiam atacados (machistas, racistas, xenófobos, que são ainda uma esmagadora maioria no nosso país), enchiam o perfil dele de ódio e rancor. Pesado mesmo. 

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Criou um canal belíssimo de entrevistas no YouTube, onde entrevistou nomes como Capicua, Hugo Van Der Ding e a incrível Nuna. Abriu a bolha dele. Havia mais pessoas que pensavam como ele, que defendiam as minorias como ele e que tinham o espírito crítico, a ironia de quem passa por elas e a mensagem. A mensagem... A mensagem do Diogo Faro, que magoa e espezinha quem magoa e espezinha gratuitamente, perdeu crédito com esta revolta recente das redes sociais. Falando da pandemia e a "dar raspanetes" a quem continuava em ajuntamentos, o Diogo foi traído por aquilo que defende quando, uma internauta se deu ao trabalho de ir procurar um erro dele. E encontrou. Porque o Diogo Faro, na sua condição de ser humano que, adivinhe-se, é comum a todos, cometeu um erro dos grandes. Apareceu em duas fotografias em dois grandes ajuntamentos em 2020, já a pandemia tinha enterrado muita gente.

A chuva de ódio rebentou, qual Gabriela Pugliesi toda cega numa festa em confinamento. O momento dos haters se vingarem. Não porque condenam a ação, porque possivelmente estiveram a lamber a avó na noite da Consoada e esvaziaram uma adega com os amigos no dia 31. Simplesmente porque o inconsciente deles, aquele grilinho infernal do ódio, lhes disse que era o momento de desfazer a mensagem do Diogo Faro. A mim não me interessa quem ele é (a não ser que tivesse um grande cadastro de crimes de sangue ou atitudes de ética discutível). Interessa-me a mensagem que ele passa. E se ele luta contra a discriminação, contra o ódio, a favor da igualdade e das pessoas, eu tenho de estar a favor dele. Esta atitude irrefletida e desnecessária pode tirar-lhe muita credibilidade. Mas não elimina o valor das mensagens que ele quis passar. E, de um momento para o outro, o intuito foi esse.

"Ele está sempre a proteger os oprimidos e a ir contra tudo aquilo que eu penso, é altura de calá-lo. Temos a arma perfeita. Feita por ele." Um suicídio social, dizem uns, uma falta de moral, dizem outros. Hipocrisia. Interesse. Ativismo estético e não ético, como diria o meu amigo Joaquim Ribeiro. O Faro tem textos que, em qualquer lugar do mundo, são textos de elevação de minorias e que destroem o poder. Os textos do Faro têm esse grande inimigo. E muita coragem teve ele em sempre se opor e assumir publicamente esse inimigo. No início deste confinamento, um partido político fez pelo menos dois comícios em restaurantes (que, tal como os outros restaurantes, deviam estar fechados) e não correu muita tinta por isso. Isto não desculpa de todo o que o Faro fez e quero deixar isto sublinhado. Mas demonstra que estar do lado de quem oprime e tem poder é muito mais protegido. Tretas.

Eu estive em 2020, tal como vocês. Eu vejo as vossas instastories e fiz as minhas também, com os meus e com muito vinho. E já que têm tanta moral, deixem-me dizer-vos que ela é vazia. Não olham para os próprios erros. Aliás, elevam-nos e fazem questão de os escarrapachar nas redes também. Ir contra a resistência é proteger as elites. É proteger quem oprime, volto a dizer. Prefiro uma pessoa que defende os oprimidos numa festa de passagem de ano a um privilegiado que oprime numa festa de passagem de ano. Erraram os dois, da mesma maneira.

Mas estamos aqui a julgar uma pessoa por um ato ou a utilizar esse ato para destruir a mensagem importantíssima que essa pessoa nos deixa porque não nos convém? O erro está feito, julgado e assumido. A mensagem perdeu força. Os privilegiados saíram vencedores. Não porque o julgaram. Mas porque sabem que a mensagem que ele passa e que tanta gente incomoda, foi para o fundo do poço com ele.

Parabéns, conseguiram! O que o Faro fez vai contra a mensagem dele, assim como se a Gabriela Pugliesi começasse a comer hambúrgueres do Mac todos os dias ao pequeno-almoço. Mas ambos fizeram o mesmo. Ambos estiveram em ajuntamentos a beber. Da Gabriela já ninguém se lembra, até porque ela não come hambúrgueres ao pequeno-almoço. Mas isto vai marcá-lo para a vida. Sabem porquê? Porque apesar de ser condenável a atitude dele, ela protege-vos neste momento. Porque destrói toda a luta e todos os textos dele que tanto vos incomodam.

E ainda bem que vos incomodam.

E a Gabriela e o Erasmo continuam fibradíssimos e maravilhosos...

Sei que a carapuça não serve a todos e esta generalização é meramente estilística. Até porque quem se identificará, vai saber bem do que é que eu estou a falar.

 

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